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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Entrevista a Guilherme Farinha

Guilherme Farinha é mais um treinador Português que percorreu o mundo, desde o Paraguai ao Irão, foram muitas a experiências vividas por este treinador Português.
Hoje conta-nos um pouco do que tem sido a sua vida.




João Prates- Conte-nos um pouco do seu percurso
Guilherme Farinha- O meu percurso já vai longo e sem abusar do tempo vou tentar sintetizar ao máximo o meu percurso. Comecei a treinar na formação, poderei ser polémico mas defendo que todos os treinadores deveriam começar na formação, a minha 1ª saída para o estrangeiro deu-se em 81/82 para o K.S. Broekhoven de Tilburg, Holanda passado 5 anos sou convidado para regressar novamente ao mesmo Clube, entretanto e durante esse espaço de tempo treinava clubes portugueses. Como a pergunta incide mais sobre o meu percurso no estrangeiro vou detalhar mais essa vertente. Entre 1990 e 1994 estive na Guiné-Bissau como Técnico Assessor Português do Centro Nacional de Formação de Futebolistas, fui Treinador de todas as selecções nacionais da sub-17, sub-20, sub-23 e maior, qualifico a Guiné pela 1ª. vez para o CAN- Tunisia/94 a nível de grupos, participo nos campeonatos do mundo de sub-17 e sub-20, quase que fui campeão do mundo Japão - Tóquio/93 só a Nigéria que foi campeão do mundo nos ganhou. Participei nos I Jogos de Língua Portuguesa realizados em Lisboa, na categoria sub-16 e ganhámos na final no estádio nacional a Portugal por 1-0. Ficámos em 5º lugar nos Jogos da Francofonia em Paris/94 na categoria sub-21.
Regressei a Portugal e fui para os Açores onde treinei o Praiense e o S.C.Horta, vou para o Paraguai onde treinei o Cerro Corá da I Divisão, no primeiro ano fui Vice-campeão e recebi o prémio Técnico Revelação. No segundo ano 1998 fui de novo Vice-campeão, a nível internacional participei na Taça Commebol e fomos eliminados pelos Campeões Atlético Mineiro em penaltis. De seguida vou para a Costa Rica representar a Liga Deportiva Alajuelense onde me sagrei Bi-Campeão nacional ganhando todos os Torneios de Abertura e Clausura, 2 vezes Campeão da Uncaf, Vice-Campeão da Concacaf em Las Vegas, 2º. na Merconorte perdendo para o campeão Atlético Medellin da Colômbia, alcançamos o 27º lugar no ranking mundial da Fifa a nivel de Clubes, sendo o 1º. clube da Concacaf e o 9º de todas as Américas. ( 4 argentinos e 4 brasileiros). Recebi o prémio de melhor Técnico do Ano por duas vezes.
Volto a Portugal onde treinei o Casa Pia, o Académico de Viseu e fui Preparador Físico do Belenenses. Volto ao Paraguai para treinar o Sp. Luqueño da I Divisão, e de seguida volto á Costa Rica para treinar o S.C. Herediano, I Divisão. Regressei ao Paraguai para ser o Coordenador do Centro Nacional de Formação de Futebolistas.
Inicio o meu percurso no Irão em Janeiro de 2007 como Preparador Físico no 1º ano, 2008 como Treinador Principal, 2009 como Coordenador e Preparador Físico no Foolad F.C. - I Divisão.
Época 2009/10 fui para a Guatemala treinar o Municipal da I Divisão onde ganhei o Torneio Regular e fui Vice-Campeão, perdendo a final por penaltis.
Regressei ao Irão ao Foolad F.C. como Assessor Técnico-Táctico e Preparador Físico sempre na I Divisão.
Encontrando-me agora em casa há 4 meses!!!

João Prates- Porque acha que nunca lhe foram dadas mais oportunidades em Portugal?
Guilherme Farinha-Em primeiro lugar respeito todos os presidentes e directores de todos os clubes portugueses porque são eles que decidem, em segundo lugar porque o meu CV não terá o valor suficiente para treinar em Portugal!

João Prates- Quais as experiências mais positivas que recorda da sua passagem por diversos Países?
Guilherme Farinha- Todas as minhas passagens pelos diversos Países ( 4 continentes ) foram realizadas com o mais alto grau de profissionalismo e entrega, como tal e porque faço da minha profissão o meu baluarte não consigo destacar umas mais do que outras.

João Prates- E as mais negativas ?
Guilherme Farinha- Sinceramente não encontro partes negativas em todas as minhas diferentes experiências, porque mesmo nos momentos menos bons temos de retirar algo de positivo.

João Prates- Ao nível da metodologia de treino, qual a sua opinião sobre o desenvolvimento que existiu?
Guilherme Farinha- A nível de treino no futebol sem duvida nenhuma que houve fases com as suas linhas de evolução, ciências dominantes, direcção da investigação e a sequência na formação dos treinadores, daí resultando a evolução dos resultados. Já passámos por uma primeira fase, ultrapassámos e passámos para uma segunda fase e no meu ponto de vista encontramo-nos na fase final de uma terceira fase que intitulamos de treino total ou global. Nesta fase a pergunta que se coloca aos treinadores é quando e quanto pode treinar o atleta. Aumentou-se significativamente o volume de treino, a qualidade do treino ou seja a intensidade e ainda falando dos factores da carga deu-se atenção à massa muscular solicitada, à complexidade do treino e ás condições objectivas e concretas da realização do movimento. Portanto um conhecimento optimo da aplicação das cargas. Evolui-se na metodologia do treino, no planeamento de treino e nas técnicas de restabelecimento. Naturalmente nesta fase as ciências dominantes são a Fisiologia, a Psicologia e o Treino. Dá-se maior importância na direcção da investigação no aspecto exterior do movimento a nível individual e colectivo; nas estruturas efectoras do movimento na estrutura orgânica e muscular; na estrutura perceptiva-cinética, na cientificação do treino; e no conhecimento das leis da carga e das leis do treino.
Penso e isto de uma forma muito pessoal que estamos de passagem para a quarta fase do Treino, o Futuro em que se pergunta como é dirigido o movimento e onde se responde que se situa nas estruturas de comando e controlo de movimento. A linha de evolução é dos conhecimentos sobre o sistema nervoso. Em relação às ciências dominantes para além do Treino, da Fisiologia, da Psicologia entramos no capítulo da Neurologia e da Cibernética. A direcção da investigação centra-se nas estruturas de comando e controlo do movimento.
Todos nós já ouvimos falar que entrámos no período da periodização táctica penso que nós os treinadores ainda estamos para descobrir e desenvolver esta evolução da metodologia.
Para terminar gostava de tecer os últimos comentários sobre esta matéria: penso que é muito grave quando muitos treinadores planificam as suas actividades de treino com inúmeros exercícios de treinar que podem consultar em livros ou Internet para mostrarem que tem um grande naipe de conhecimentos e esquecendo-se de se debruçarem sobre as reais lacunas da sua equipa. Não tenho duvidas que é importantíssimo a qualidade da formação de um treinador e os seus conteúdos mas não há nem existe em nenhuma universidade ou curso de treinador a aprendizagem e o ensino de muitas qualidades que um treinador deverá ter e entre outras dou apenas dois exemplos: o feeling e a percepção dos acontecimentos.
O treinador depara-se na sua actividade com alguns problemas um dos maiores é saber correlacionar a lógica didáctica do jogo com a lógica interior do jogo. Muito há ainda por investigar...

João Prates- Cada vez mais os treinadores portugueses são requisitados para o estrangeiro, a que acha que se deve esta aposta?
Guilherme Farinha- Não tenho duvidas nenhumas em afirmar que o Técnico português é o melhor do Mundo!
 
João Prates- Que conselhos daria aos treinadores que agora estão a iniciar a sua carreira?
Guilherme Farinha- Depois de tantos anos de experiência aconselharia a todos os jovens técnicos que queiram abraçar esta nobre Profissão para pensarem 3 vezes se facto têm as capacidades e as qualidades inerentes a esta profissão.

João Prates- A nível pessoal, quais são os seus objectivos para o futuro?
Guilherme Farinha- Sou um treinador ambicioso mas consciente das dificuldades que se deparam no mundo do futebol. Naturalmente que deveremos ter a mentalidade de que se fizermos bem hoje teremos de fazer melhor no futuro. Esta é a minha primeira ambição, fazer sempre mais e melhor e continuar a dignificar como sempre fiz por esse Mundo fora o nome de Portugal e dos Treinadores Portugueses.

João Prates- Algumas palavras que queira deixar aos leitores deste blogue?
Guilherme Farinha - O Futebol é uma vertente da Vida como tal tem o seu lado bom e menos bom com as vicissitudes e pedras no caminho...assim sendo no Futebol como na Vida temos de saber ultrapassar e vencer todos os obstáculos com a maior Dignidade possível respeitando estas 3 premissas: Saber, Saber Fazer e Saber Estar!

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