Dentro de um jogo de futebol existe três equipas, uma das quais a quem duas devem respeitar as suas decisões, falo da equipa de arbitragem e em particular do árbitro principal, aquele que é sistematicamente criticado, aquele que raramente consegue colocar duas equipas de acordo com a sua actuaçao, o unico que não tem claque,o unicos que é constantemente vaiado e a quem todos culpam dos maus resultados, para conhecer melhor um pouco o que é ser árbitro entrevistei Luis Godinho, uma das promessas do futebol em termos de arbitragem do alentejo que respondeu claramente ás questões que possivelmente a maioria de nós gostava de saber.
João Prates- O que te levou a enveredares por uma carreira na arbitragem? jogar futebol não era mais apelativo?
Luis Godinho- Muito sinceramente jogar futebol nunca foi o meu forte, nem a minha paixão, inclusive até cheguei a jogar nas camadas jovens do Sport Clube Borbense na posição de guarda-redes, mas foi com toda a certeza uma oportunidade falhada. A paixão da arbitragem posso dizer que nasceu comigo pois desde muito novo, o trabalho do árbitro me despertava tamanho interesse e desligava totalmente do jogo de futebol em si para reparar na equipa de arbitragem e em tudo o que ela fazia. Os “primeiros” passos na arbitragem foram dados tinha eu sete anos, quando na escola primária comecei a dirigir jogos aos intervalos entre turmas apelidadas de rivais.
João Prates- Ser arbitro é sinomino de ouvir insultos, como é que um arbitro suporta a pressão que sofre diariamente?
Luis Godinho- Infelizmente os insultos fazem parte do futebol e da maneira de muitas pessoas entarem na vida, pois é insultando os outros, mais propriamente os árbitros, que os problemas para essas mesmas pessoas ficam solucionados, mas esqueçem-se por vezes que esses arbitros a quem eles insultam de uma forma brusca, têm sentimentos, têm familia, têm amigos e não são propriamente umas máquinas. Cada vez mais um ser humano que decide envergar a carreira de árbitro tem que na sua personalidade estar apto para saber ouvir sem reagir e lidar bem com a pressão que nos é quase sempre colocada em cima dos ombros.
João Prates- Neste momento a arbitragem vive momentos conturbados, pensas que se deve ás enormes pressoes que os clubes fazem ou existe mesmo uma crise de valores na arbitragem?
Luis Godinho- Penso claramante que o futebol e a arbitragem em concreto vive uma obvia e clara crise de valores no seu seio, e quando isso acontece as coisas obviamente não poderão correr como todos nós esperamos. Os arbitros no seu todo e a estrutura que os defende por direito, deve ter uma personalidade forte, convicta e sem receio, para assim “combater” as pressões de que somos alvo diariamante e acabar com quem por imaginação ou sonho pensa que consegue manipular tudo e todos.
Joao Prates– Na minha opinião ser arbitro de futebol é o mais dificil, e sendo um defensor dos arbitros por vezes existe erros que nos custam como se diz na giria a engolir, e com o apito dourado a suspeição aumentou, axas que nalguns erros existe mesmo vontade de prejudicar determinado clube? Ou são situações que acontecem por falta de categoria de quem arbitra?
Luis Godinho– Não quero sequer por em causa que existe vontade de colegas meus em prejudicar qualquer clube que seja, porque, se o fizesse estaria a ir contra os meus ideiais e principios. Esses erros por vezes tão claros e obvios que todos vemos através de uma outra posição no terreno, ou inclusivé através de dezenas de repetições na televisão, por vezes não são tão claros e obvios para o árbitro dentro de campo, pois basta uma má colocação da parte do árbitro, uma leitura errada do lance ou inclusivé um jogador a tapar a sua visibilidade, é o suficiente para esses erros acontecerem. Mas como frizei anteriormente, defendo afincadamente que não existe da parte do árbitro qualquer intenção de prejudicar quem quer que seja.
João Prates- Achas que a maior parte das pessoas poderá criticar as arbitragens por falta de conhecimento das leis?
Luis Godinho- Com toda a certeza, julgo que mais de 70% das pessoas não sabem as Leis de Jogo de Futebol 11 no seu todo, por isso muitas vezes deparamos com protestos incríveis, como por exemplo pedir fora de jogo quando a bola vem directamente de um lançamento de linha lateral. Este cenário não se passa somente nas pessoas que assistem cá de fora aos jogos de futebol, passa-se também dentro das quatro linhas onde por vezes ouvimos jogadores, treinadores e dirigentes protestarem e alegarem coisas que nunca pertenceram ás leis de jogo ou então que há muito delas não fazem parte. Julgo que os dirigentes, treinadores e jogadores se deveriam preocupar mais em saber a base das leis de jogo para assim terem fundamento em alguns dos seus protestos. Estou seguro que é uma questão que tem que ser batalhada no futebol distrital.
João Prates– O que sente um arbitro depois de ver que errou? Como é ouvir bocas diariamente de colegas de trabalho?
Luis Godinho– Por norma não oiço bocas de colegas e amigos meus, oiço sim opiniões a determinados lances que se passam em jogos que dirijo e esse papel é extremamente importante para nós, é sempre bom ouvir onde errámos para que no futuro não o façamos novamente. Em relação ao ver-mos depois do jogo lances em que errámos, é claramente para nós arbitros uma enorme frustação, pois quando entramos para dentro do terreno de jogo, vamos com plena consciência que teremos de dar o nosso melhor, tentado passar despercebidos durante o jogo, para assim nos darem o devido valor.
João Prates– Os arbitros tem algum acompanhamento psicologico? Achas necessario este tipo de apoio?
Luis Godinho– Actualmente os árbitros não têm qualquer apoio psicologico especifico, temos sim aquele apoio moral acompanhado em certas situações da parte do Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Évora e da sua estrutura, achando claramente que por vezes, alguns árbitros possam necessitar desse mesmo apoio psicológico para não se deixarem fragilizar.
João Prates– Em termos de treino, que condições tem os arbitros no distrito de Évora?
Luis Godinho– Actualmente os arbitros do distrito de Évora têm condições excelentes e se não me engano, quase unicas a nivel distrital em Portugal. Desde 2007 que Évora conta com três centros de treino (Borba, Vendas Novas e Évora), em dois dias especificos da semana em cada um dos centros, onde um dia desses dois, o treino é acompanhado por um preparador fisico que elabora planos de treino especificos para árbitros. Julgo que estes centros de treino são para nós árbitros uma mais valia, sabendo á partida que é uma iniciativa com custos acentuados suportados pela Associação de Futebol de Évora, mas agora é tempo de por mãos á obra e tirar o maior proveito dos centros de treino, pois está criado o ponto de partida para que todos os arbitros se preparem fisicamente nas melhores condições. Este ano a juntar á parte fisica, temos a parte tecnica onde uma vez por mês, um elemento da Comissão de Apoio Tecnico do Conselho de Arbitragem da AFE visita o centro de treino, dando aos árbitros aulas tecnicas no terreno de jogo a nivel de sinalética, colocação em campo, fora de jogo, etc, etc, etc. Um grande prenda para a arbitragem eborense.
João Prates- As vezes assistimos jogadores a chamar nomes aos arbitros e não os vimos actuar a nivel disciplinar, o que pensas disso?
Luis Godinho- Na minha opinião é tudo um pouco relativo. Todos nós que estamos no futebol sabemos que á comportamentos que são inaceitáveis e para essas situações os árbitros estão plenamente preparados, mas também temos que por vezes fazer ouvidos de moco, para assim conseguir controlar determinados jogos. Temos que saber separar as aguas, as ofensas para um lado e o protestar para o outro, e neste ultimo existem muitíssimas maneiras de protestar, tendo o arbitro capacidade para avaliar o devido protesto e saber se deve ou não actuar. Jogadores, treinadores, dirigentes, todos são humanos e todos por vezes dizem “coisas” que no seu temperamento normal não o diziam e aí o árbitro tem com o seu papel de juiz, o poder de castigar ou não o elemento em causa da maneira que achar mais correcta.
João Prates– As vezes tambem lemos que por vezes os arbitros ja levam determinados jogadores debaixo de olho e que a minina coisa que ele faça durante o jogo...corresponde a realidade?
Luis Godinho– Acredito plenamente que nós árbitros não fazemos assim as coisas, temos sim como tudo na vida, jogadores com quem simpatizamos mais, por certas e determinadas razões mas o que não implica o tratamento uniforme de todos os intervenientes desportivos dentro do terreno de jogo, pois está em causa para além de valores éticos e morais a verdade desportivo e essa nós temos que a assegurar.
João Prates– És a favor da entrada das novas tecnologias na arbitragem? Pensas que poderão ser benéficas?
Luis Godinho– Eu sou apologista que a entrada de novas tecnologias são certamente benéficas para o futebol e para nós árbitros pois o risco de errar vai diminuir e o futebol ganhará com isso, mas para mim nem tudo é bem-vindo pois não podemos transformar ser humanos em máquinas ou por sua vez que máquinas decidam pelos seres humanos porque o futebol é jogado e dirigido por homens e esses homens têm que ser ajudados, não transformados, porque o erro é humano e também faz parte do futebol.
João Prates– Que medidas se podem tomar para melhorar o nivel da nossa arbitragem e fazer tambem a evoluçao da propria?
Luis Godinho– As medidas têm que ser tomadas de acordo com os problemas que existem na arbitragem e um dos maiores problemas de hoje em dia é a falta de árbitros nos quadros distritais, onde devido ás medidas fiscais deliberadas pelo governo, centenas de jovens tiveram que abandonar a arbitragem. Digo que é esse o maior problema porque é dos distritais que nascem os novos árbitros para os quadros nacionais e internacionais e se esses não forem apoiados e incentivados a arbitragem portuguesa passará muitos maus bocados no futuro. Nesse campo tenho, não por obrigação, mas sim pelo devido reconhecimento enaltecer o excelente trabalho desenvolvido pelo Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Évora e pela Comissão de Apoio Técnico do CA da AFE, pois têm com toda a força, empenho e dedicação apoiado, incentivado e lançado novos jovens valores na arbitragem. Este com toda a certeza é um exemplo a ter em conta.
João Prates– A nivel pessoal quais são os teus objectivos em termos de futuro?
Luis Godinho– Os meus objectivos passam por os objectivos traçados por qualquer jovem árbitro, que ambiciona fazer carreira na arbitragem a nivel nacional e subir de categoria o mais acima possivel, mas a realidade é dura e tenho noção que tenho que trabalhar muito para alcançar os meus objectivos. Para ser mais concreto, os meus objectivos a curto e medio prazo passam por uma subida á 3ª Categoria do Quadro Nacional de Árbitros da Federação Portuguesa de Futebol. Se irei conseguir ou não, isso não posso dizer, o que posso dizer é que irei trabalhar e esforçar-me para que isso possa acontecer.
João Prates– Que menssagem queres deixar aos leitores deste blog?
Luis Godinho– Queria deixar acima de tudo uma mensagem de esperança, esperança essa de uma arbitragem melhor no futuro, de um futebol melhor no futuro e de uma nova hera de valores eticos e morais daqueles que estão no futebol, pelo amor á camisola ou pelo simples dinheiro. Queria deixar tembém um enorme abraço ao João Prates, que tive oportunidade de conhecer através deste espaço, agradecendo-lhe o convite que me endereçou para esta entrevista e desejar a ele e a todos os que visitam este blog as maiores e mais sinceras felicidades.
1 comentário:
Mais uma excelente entrevista joão, sem duvida que este é um lado pouco conhecido dos árbitros e sou da opinião de que tambem se deviam realizar conferencias de imprensa com os arbitros pois eles apesar do mau momento não são os culpados de tudo.
Quanto ao blog, parabens!está cada vez mais interessante e fala do que realmente interessa ao futebol e não é por acaso que foi referenciado pela revista FOCUS e não liga aos ataques que lhe fazem via comentário e que muito bem aceita, demonstra de que massa é feito! Parabens tambem pela divulgaçao do futebol feminino principalmente do conselho de Mora pois nem todos os Morenses se reveem nos comentarios cobardes que aparecem.
abraço
VS
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