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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

TREINADOR NA SUA PLAYSTATION


Quantas são as vezes que vamos ver um jogo de futebol jovem e quando entramos no recinto desportivo parece-nos que o jogo está a decorrer lindamente, com alguma organização, com sentido colectivo e até mesmo com muito apoio e incentivo por parte dos adeptos.
Quando chegamos perto do campo começamos a perceber que afinal não são os adeptos que apoiam, mas sim o treinador, o pai do miúdo que tem a bola e o director, que está a “falar” com o jovem que na situação anterior tentou driblar um adversário e não conseguiu.
Vamo-nos surpreender com a nossa incapacidade de percepção à distância, quando nos sentarmos atrás do banco de suplentes para ver o tal jogo bonito e organizado. É que afinal não eram os adeptos, e agora descobrimos que não estão a apoiar. Afinal o director não está a falar com o miúdo que perdeu a bola mas está-lhe a ralhar, o pai está a dizer ao seu filho que remate porque tem que marcar golo, e o treinador pede ao miúdo para passar a bola porque leu no livro que os atletas nesta idade têm que ter muito contacto com a bola.
Mas até ficamos contentes porque sabemos que o nosso ouvido não se engana sempre e afinal aquele ruído que vem lá do fundo deverá ser do guarda-redes que até deve evoluído tacticamente e está a corrigir o posicionamento dos colegas. Mais uma vez falhámos, aquele barulho é o pai do guarda-redes que está atrás da baliza a explicar ao seu filho como devia ter colocado as mãos na bola para ter evitado aquele golo na situação de 3 para 0. Afinal nem o nosso ouvido nos deixa contente.
Ainda bem que já chegou o intervalo porque quer nós, quer os miúdos parecemos bastante cansados, eles porque estão tão cabisbaixo que devem estar a ser derrotados por uma enorme diferença de golos e nós porque estamos muito desiludidos com as nossas capacidades perceptivas.
Bem afinal enganámo-nos, nunca mais chegamos atrasados, é que o treinador depois de ter analisado a folha estatística que o director estava a preencher está a dizer que o resultado é 0-1 e que foi golo porque o árbitro não marcou o fora-de-jogo que existiu claramente nem depois a falta sobre o guarda-redes.
Mas parece-nos que está a escrever qualquer coisa na placa da palestra, mas eles já sabem ler assim tão bem? Afinal e é a mudança da táctica para o inicio da segunda tarte, vão passar a jogar em 1x2x1 em losango como joga o Benfica.
Enquanto esperamos pelo inicio da segunda parte o nosso irmão mais novo na sua playstation também deverá estar a perder, facilmente vai carregar no “menu” e mudar a táctica - “pode ser que resulte”.
Já começou a segunda parte e no ambiente nada mudou, a bola é guiada pela voz do treinador respeitando o futebol que tem na sua mente assim como na playstation do nosso irmão que facilmente consegue transmitir aquilo que idealiza no seu visor.
Mas quem será aquele miúdo gordinho que vem para o banco e está equipado igual aos colegas que foi buscar a bola atrás do muro? Se calhar também é jogador. Nós com pena dos miúdos a pensarmos que teriam que jogar o tempo total de jogo. Mas afinal existem mais jogadores e é mesmo jogador porque já entrou em campo, olha… acabou, não faz mal, foi buscar a bola atrás do muro também é exercício, e até ganhamos.
Grande festa, afinal ficou 4-1.
O nosso irmão também ganhou, parece-me que quer o treinador quer o nosso irmão têm muito futebol na sua cabeça e têm uma boa capacidade de controlo remoto, mas será que para ambas as situações os seus jogadores tiveram alguma influência no rumo do jogo ou será que foram meros intervenientes?! A grande diferença é que o nosso irmão daqui a cinco anos pega na playstation e os jogadores são os mesmos a fazer as mesmas coisas, e o que farão aqueles jogadores reais que estivemos a observar hoje? Certamente também farão as mesmas coisas que agora, o seu ouvido continuará aberto na esperança de receber um estímulo externo para saber se é melhor rematar ou passar. A sua capacidade de decisão nunca terá sido desenvolvida e quando chegar o momento de decidir a melhor situação em apenas numa fracção de segundo o controlador remoto não vai lá estar e irão errar.
Por isso vamos deixar o comando da nossa palystation em casa e permitir aos nossos jovens que sejam eles a carregar no seu próprio X; O; Δ: ;. Podemos demorar mais tempo a ter resultados, mas podemos ficar descansados que quando nos esquecermos do comando em casa eles vão ter êxito na mesma.

Enviado por Mauro Moderno

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito, muito, muito bom! A realidade é essa mesma, e o espaço para a evolução cognitiva e para a tomada de decisão é castrada, com a agravante de existirem vários "comandos" nos jogos dos miudos: o do pai, a pedir o x do passe, a do treinador, o O do centro, a do director a pedir o remate, o que cria um conflito na "memória" dos miudos, que por vezes nem com um "reset" se consegue alterar. Aquilo que é "o momento" da vitória a este preço, é também o início da "derrota" da formação de um jogador. É que na passagem ao futebol de 11, o campo é maior, as bancadas estão mais longe, e os "comandos" já não têm raio de acção. E nessas idades, a formatação do disco já vem tardia, e o comboio já lá vai a passar. Parabens
Carlos Guerreiro