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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

ENTREVISTA A FRANCISCO AGATÃO

Francisco Matos, ou mais conhecido por Francisco Agatão foi e continua a ser mais um nome ligado ao futebol a levar o nome do Alentejo a outras paragens e a dignifica-lo. Uma das melhores entrevistas deste blogue, se não a melhor.
Como jogador representou clubes como O Elvas, Des.Beja, Boavista, Estrela Amadora onde foi campeão e Estoril onde terminou a carreira como jogador, enquanto treinador esteve como adjunto de Carlos Manuel em clubes como Braga, Sporting, Salgueiros, Campomaiorense e Santa Clara onde foi campeão.
Como treinador principal está desde 2005 no Operário dos acores.


João Prates- Numa carreira já longa no futebol e com sucesso, o que recorda de mais positivo na sua carreira até aqui?
Francisco Matos- Recordo todos os momentos, mesmo até os mais tristes, porque sei que cada um desses momentos serviu para me ajudar a crescer como homem e desportista. Sempre valorizei as pequenas coisas da vida, gestos, atitudes, conquistas por mais pequenas que tenham sido. Fui sempre muito sério e profissional no meu trabalho, colocando os interesses da equipa acima dos meus, talvez por isso tenha permanecido cinco anos no Boavista e mais cinco no Est. Amadora, chegando em qualquer um destes clubes a ostentar a braçadeira de capitão. Naturalmente que ter chegado ao Boavista como um perfeito desconhecido e me ter imposto como titular foi um dos momentos marcantes, assim como ter sido campeão no Est. Amadora. Ter tido a possibilidade de trabalhar num clube com a grandeza do Sporting com tudo o que acarreta estar ali, também foi muito importante e simboliza no fundo aquilo que tem sido a minha vida, subir a pulso os degraus da vida, com muito trabalho, profissionalismo e dedicação. Não posso contudo esquecer todos os outros clubes que representei, pois todos os eles contribuíram para a minha valorização pessoal e ajudaram-me a ser aquilo que sou hoje.
O melhor do futebol, fora as conquistas colectivas, que ficam nos anais da história dos clubes, são sem sombra de dúvidas, as pessoas que se cruzam no nosso caminho e que de uma maneira ou de outra nos ajudaram a crescer, quer se trate de dirigentes, treinadores, jogadores e até adeptos. Um bem haja para todos aqueles que me ajudaram.
João Prates- Saiu de Beja e andou pelos maiores palcos do futebol português, sente-se uma referencia para aqueles que também procuram outros palcos? afinal você é o exemplo que é possível!
Francisco Matos- Fica difícil saber em concreto se sou ou não uma referência para os mais novos, grande parte deles não me viu jogar, apenas me conhecem de nome. Sei que sou mesma pessoa, humilde e honesta, nada me subiu à cabeça, pois sei que no futebol tudo é efémero.
Cheguei à 1ª Divisão com 25 anos e ainda consegui participar em 8 campeonatos dessa divisão, realizando perto de 200 jogos, participação nas provas europeias e na Taça de Portugal, senti-me realizado e sei que tudo o que consegui foi à custa de muito trabalho e dedicação. Se por tudo o que consegui posso ser apontado como um exemplo a seguir, logicamente que fico feliz.
Aprendi que, tudo na nossa vida, é possível de alcançar, é preciso acreditar, sermos fortes em todos os aspectos, estarmos preparados para enfrentar todas intempéries e termos um bocadinho de sorte, sem esquecer que competência e conhecimento devem ser as nossas maiores virtudes.
João Prates- No nosso Alentejo existe jogadores com qualidade mas que muitas vezes se perdem por outros caminhos, que conselhos lhes daria aqueles que querem fazer do futebol vida?
Francisco Matos- No nosso Alentejo existem de facto jogadores de qualidade acrescentada, mas como todos nós sabemos, a qualidade deve ser exibida num todo, que adianta ter uns pés óptimos para a prática do futebol se depois a cabeça não ajuda. Ser jogador profissional de futebol não está ao alcance de todos, mas apenas daqueles predestinados. Tenho por hábito dizer aos jogadores, que é uma perda de tempo, não saber aproveitar esse dom que Deus lhes deu, se eles soubessem a quantidade de pessoas que gostariam de estar no lugar deles, talvez valorizassem mais a sua profissão.
Ser profissional de futebol implica sacrifícios, muitos, mas a compensação e a realização pessoal é bem maior e vem na sequência da entrega que temos. Fazer o que gostamos e ainda por cima sermos remunerados por isso é muito gratificante e um bom motivo para levarmos as coisas a sério. É uma profissão aliciante, mediática, compensatória e que nos dá a possibilidade de sermos felizes, para além de nos ensinar a respeitar o próximo(treinadores, colegas, árbitros, dirigentes e adeptos).
Para todos aqueles que reúnem condições técnicas, tácticas e físicas para a prática, não percam tempo a pensar no ontem e encarem cada dia como uma bênção na conquista de mais um objectivo. Já dizia o velho sábio que o caminho faz-se caminhando.
João Prates- Em termos de metodologias de treino, quais as principais diferenças que destaca desde o tempo que começou como treinador, até aos dias de hoje?
Francisco Matos- Muitas são as diferenças, logicamente, no meu tempo treinava-se de acordo com os conhecimentos que se tinha, o treino físico fazia-se à parte do treino tec/tac, não havia integração, 5ª feira estava instituído que seria o dia do treino de conjunto a campo inteiro. Eu ainda tive o privilégio de trabalhar com grandes preparadores físicos que trabalhavam muito bem. Hoje em dia o treino evoluiu para patamares onde se trabalha tudo(técnico, táctico, psicológico), o que o atleta precisa, sem deixar de haver contacto com a bola, coisa que no meu tempo era só utilizada ao fim de uma semana de trabalho.
O treinador é sobretudo um gestor de recursos humanos e naturalmente que tem que realizar o seu trabalho de acordo com os atletas que tem ao seu dispor e tentar potenciar ao máximo as suas capacidades. Uma das coisas que aprendi na minha desportiva é que o treino é sempre aquilo que os jogadores queiram que seja, senão estiverem disponíveis, nem preparados do ponto de vista psicológico, para o realizarem com empenho, vontade, compreensão, muito dificilmente haverá aquisição do que quer que seja, da unidade de treino.
Torna-se necessário para qualquer treinador nos dias de hoje, conseguir passar da teoria à prática, provando aos atletas que o trabalho que se realiza é o melhor para eles e para a equipa, sendo certo que os atletas também devem ter a sua opinião, porque no fundo são eles que jogam e quanto mais confortáveis se sintam no desempenho do seu trabalho mais e melhores resultados podemos ter. Todos temos que acreditar no trabalho que se desenvolve e será esse que nos pode conduzir ao sucesso.
João Prates- É adepto do treino integrado ou analítico?
Francisco Matos- Sou claramente a favor do treino integrado, por tudo aquilo que ele pode dar aos atletas na aquisição de comportamentos e valências que no jogo se revelarão decisivas para ganharmos mais vezes. Não deixo contudo de realizar exercícios analíticos, muito pelo simbolismo que os mesmos têm para os atletas, coisa que não devemos deixar de considerar.
João Prates- Como é neste momento o seu microciclo no Operário? É o seu microciclo ideal?
Francisco Matos- No Operário realizamos numa semana normal de trabalho, seis unidades de treino, sendo que na 4ª feira realizamos duas sessões. Muita preocupação com a recuperação dos atletas pois não nos podemos esquecer que viajamos de avião de quinze em quinze dias, com tudo o que acarreta do ponto de vista físico/psicológico, espera nos aeroportos pela bagagem, viagens de muitas horas, treinar num campo de relva sintética e jogar no continente em campos de relva natural, enfim um sem nº de coisas que não podemos deixar de ter em conta na preparação da semana.
Temos o cuidado de trabalhar todos os aspectos que achamos necessários para os atletas adquirirem a condição física, técnica e psicológica, no sentido de darem uma resposta eficaz no jogo.
É o microciclo ideal tendo em conta todas as condições de dispomos e modéstia à parte, temos conseguido potenciar ao máximo a qualidade individual e colectiva.
João Prates- Está desde 2005 no Operário, como se consegue estar tanto tempo num clube?
Francisco Matos- Estar seis anos num clube, nos dias de hoje, não é tarefa fácil e parece-me que é fruto de um conjunto de circunstâncias que de alguma maneira me têm favorecido. A direcção acredita e confia no nosso trabalho e isso é fundamental, senão mesmo decisivo, não nos podemos esquecer que quem manda no futebol são os dirigentes. Depois os resultados alcançados, antes de chegarmos, o Operário era uma equipa que não se conseguia afirmar na 2ª Divisão Nacional, neste momento e passados sete anos de permanência nesta divisão, conseguiu alcançar as melhores classificações da sua gloriosa história, merece o respeito das outras equipas, ganhou estatuto e é normalmente considerada uma das candidatas aos lugares cimeiros.
Por tudo aquilo que acabo de dizer existe uma grande empatia, sentimos-nos bem e vamos construindo o nosso caminho tendo sempre como objectivo melhorar em cada dia que passa.
João Prates- Ao longe como observa neste momento o futebol Alentejano?
Francisco Matos- Fica difícil fazer uma análise a esta distância e sem grande conhecimento de causa, apenas sei aquilo que vou lendo aqui e ali. O Alentejo está descapitalizado e à semelhança do que acontece com outras equipas do interior paga um preço elevado, pela falta de indústrias e de investimento. É uma pena que assim seja, sermos vetados ao esquecimento em todos os aspectos, mas não seremos certamente esquecidos no conhecimento e na competência e agora, mais do que à uns anos atrás, vão aparecendo treinadores qualificados que transmitem os seus conhecimentos aos atletas que orientam e de certeza que os frutos irão surgir, para eles e para os clubes onde desenvolvem o seu trabalho.
Faço votos para que num futuro próximo possamos ter uma equipa com destaque nas Ligas Profissionais e dar ao nosso Alentejo a visibilidade que facto merece.
João Prates- Quais são os seus treinadores referencias?
Francisco Matos- Trabalhei ao longo da minha carreira com vários nomes de referência, com todos tive uma relação honesta e profissional, recolhendo ensinamentos que me têm sido úteis na minha profissão. Gostei de todos e não vou fazer nenhum destaque individual apenas aproveitar para agradecer a ajuda que me deram.
Fico muito feliz que alguns deles tenham e continuem a ter muito sucesso não só em Portugal mas também no estrangeiro. Como português não fico indiferente ao sucesso do melhor treinador do mundo, aquele que tem conseguido êxito em todas as equipas que orienta, José Mourinho. Como adepto do futebol gosto, quem não gosta, daquilo que vemos Barcelona fazer em cada jogo que realiza e do seu principal mentor, Guardiola.
Não tenho referências, aprecio a forma como alguns dos treinadores colocam as suas equipas a jogar.
João Prates- Em termos de futuro, quais são os seus objectivos?
Francisco Matos- Sou ambicioso, mas sei qual o meu lugar e também sei que em Portugal quando se atinge uma determinada idade, somos considerados velhos para treinar, por isso entrego-me com muita paixão ao meu dia a dia, procuro transmitir aos jogadores que oriento, conhecimentos, que possam ser úteis na sua carreira e os ajudem a ser melhores e mais capazes.
Por conseguinte sinto-me realizado, tenho um grande orgulho em representar um clube com a grandeza humana que o Operário tem e que me tem proporcionado momentos muito bons.
João Prates- Algumas palavras que queira deixar aos leitores deste blogue?
Francisco Matos- Sou leitor assíduo do blogue, dou-te os parabéns pelo mesmo, tenho a certeza que é uma mais valia para a divulgação do desporto alentejano e dos respectivos intervenientes. Agradecer a amabilidade do convite e desejar a todos os leitores um grande ano de 2011. Bem hajas pelo teu trabalho e dedicação.

1 comentário:

Anónimo disse...

um grande abraço para o chico quando fomos militares em beja nas nossas peladinhas eu e mais alguns paravamos só para o ver jogar um bem haja para o chico papo e familia joão fragoso MORA