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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Entrevista a Mister Madureira

Manuel Madureira é mais um dos muitos treinadores portugueses que foram a busca de êxitos para fora do nosso Pais, entre outros países, Mister Manuel Madureira andou por Argélia, Marrocos, Congo entre outros.
É um pouco da sua carreira que dou a conhecer.



João Prates- O que o levou a sair do nosso Pais para treinar?
Mister Manuel Madureira- Antes de mais, uma saudação especial pela oportunidade que me deu ao me endossar o convite para participar no seu blogue.
Sair de Portugal, não teve nada que ver com o futebol português em si.
Todos nós sabemos que a qualidade das infra-estruturas é bem melhor em Portugal, que na maioria dos países africanos.
A questão centrou-se no grande sonho de querer ser profissional de futebol.
Enquanto jogador, passei ao lado de uma possível carreira.
E, depois de 12 anos em Portugal, a treinar Futebol de 11 e Futsal, Juniores, Femininos e Seniores, entre Aveiro e Viseu, necessitava de sair para fora.
Como não cheguei a ser profissional como jogador, tornava-se muito difícil, para não dizer impossível, entrar no ciclo fechado dos treinadores portugueses.
Os clubes dão a mão a quem já lá está.
Quem procura entrar, é bloqueado pelo "sistema".
Quem não tiver a carteira recheada e não entrar na onda cíclica, que todos os que lá estão de uma maneira ou de outra já por lá passaram, nunca chegara a vestir a camisola do profissionalismo.
Muito mais haveria a dizer, mas o que já tive a coragem de manifestar, é desde já matéria forte de mais.

João Prates- Quais foram as maiores dificuldades que encontrou?
Mister Madureira- Uma coisa é ir subir os "Pirenéus" de bicicleta, outra de carro.
Claro, que há 11 anos atrás, comecei por ir ao web site da FIFA e pesquisar a página dedicada aos Agentes FIFA.
Encontrei 3000 Agentes espalhados pelo globo terrestre.
Durante 4 meses, enviei uma média diária de 35/40 e-mails personalizados a todos os Agentes FIFA.
Digamos, que dos 3000 Agentes, responderam-me uma média de 10% = cerca de 300.
E desses 300, o número por motivos diversos, foi-se reduzindo até aos que hoje estão na minha lista do Telemóvel, que são cerca de 180.
Mesmo tendo 180 Agentes / Managers - FIFA, na minha lista telefónica, "todos espremidos, não dão o sumo de uma laranja"
Existem as mais variadas técnicas que eles utilizam.
Uns, dão-me o número de telefone do presidente de um qualquer clube e dizem:
Mister, ligue ao presidente e diga-lhe que está a ligar da parte do manager X.
Eles precisam, de treinador.
Ora, no principio por pura inexperiência minha, ainda fiz alguns contactos, mas cedo percebi, que o assunto não funciona assim.
Primeiro, porque em 100 % das situações que me foram colocadas nestes termos, todos os presidentes com quem falei, alegaram desconhecer o empresário em causa e desde logo
perdi credibilidade junto desses presidentes.
Segundo, porque nunca um treinador se deve oferecer a um clube.
Terceiro, se o fizer, é dizer adeus à sua credibilidade, à sua imagem, à sua personalidade, ao seu valor negociável.
Quarto, gasta-se rios de dinheiro em Telefone e Telemóvel, quer para Portugal, quer para outros países e nunca mais haverá retorno desse dinheiro.
Portanto, conclusivamente, o Treinador deve esperar que o telefone toque e para tal, devera ter Agentes competentes e não usurpadores das sua funções enquanto homens do futebol.
Outros, pedem dinheiro antecipadamente (graças a Deus, nunca caí nessa esparrela) e depois nunca mais se houve falar deles, etc, etc, etc...
Só uma confidência: Naquela época, gastei o equivalente hoje a cerca de 4 mil euros em Telefone e Fax.

João Prates- Ao nível da metodologia de treino como encontrou o futebol nesses países?
Mister Madureira- Muito pobre.
Maus hábitos de treino.
Para lhe dar uma ideia, faço sempre o Teste Navette antes de começar o meu trabalho.
Se é na pré-época, ainda é aceitável resultados fracos.
Agora, se é já no decurso da época, esses valores podem oscilar.
Utópica mente, neste último clube onde estive, os Diables Noirs, da 1D do Congo Brazzaville, quando cheguei ao clube, eles já tinha 1 mês de preparação a treinar todos os dias, e algumas vezes biquotidiano.
O resultado do Teste Navette, apresentou resultados super-negativos.
Como é possível, jogadores profissionais, num teste que demora (quem consegue atingir o fim do teste), cerca de 17 minutos num percurso de vai-e-vem de 20 metros, comandado pelo som da cassete, a cada PI o atleta tem que estar no cone respectivo, não conseguirem fazer mais de 1000 metros?
Bom, talvez proximamente lhe possa mostrar os meus arquivos.
Após 1 mês de trabalho sobe o meu comando, esses mesmos jogadores, efectuaram marcas na casa dos 3000 metros em média.
Quer isto dizer, que andavam a brincar aos "futebois".

João Prates- Ao nível de jogadores, o continente Africano e realmente um viveiro de jogadores?
Mister Madureira- Efectivamente é um enorme viveiro de jogadores.
Mas, o problema, é como o minério, o diamante, etc...
Depois de encontrado, terá que obviamente ser transformado.
Não existe formação.
Naqueles países, quem tem um olho é rei.
Logo, é difícil, muito difícil aparecer um entre muitos.
Acabam por ter a cabeça nos pés e os pés na cabeça.
Depois quando um treinador europeu chega a um pais destes, ou se adapta muito bem, ou muito cedo perde o lugar, quer isto dizer, antes vergar que partir, no sentido de levar a água ao seu moinho sem partir o pote, mesmo que encha o pote ate cima e chegue ao destino somente com metade do ponte cheio
Consegue entender???
So vivendo no local para se poder compreender.
E nalguns países, a magia negra também está presente
Nesses países, mesmo com o psicólogo do desporto, teria imensa dificuldade de levar o barco a bom porto.
Tive jogos no Congo Brazzaville, em que antes de começar o jogo, dentro do balneários, os rituais são tantos com o feiticeiro, que nem vale a pena falar.
Se se falar, terá que ser à força e ai em caso de derrota, vira-se o feitiço contra o feiticeiro, não neste caso contra o feiticeiro, mas contra o treinador.
Então, tive que adaptar.
Decidir tudo no dia anterior, fazendo a reunião técnica, para antes do jogo os deixar à vontade.
Tive casos, de virem buscar alguns jogadores depois da meia noite para certos rituais (não sei onde) e regressarem às 05H00.
Como foram notando uma oposição da minha parte, começaram a ter outra estratégia.
Colocar a equipa num hotel do tipo de 3 estrelas e deixar o treinador num outro hotel, de 5 estrelas, a 10/15 km de distância, alegando não haver dinheiro para colocar todo o grupo no hotel de 5 estrelas e ao mesmo tempo, dizendo que o hotel de 3 estrelas não tinha as condições ideais para um europeu se instalar.
Enfim, histórias para mais tarde recordar.
João Prates- Foi fácil a adaptação deles a uma nova exigência?
Mister Madureira- Apesar de tudo, foi mais fácil a minha adaptação a eles do que a deles à minha.
Ao fim de 12 dias, neste último clube de Brazzaville, tinha decorado mais de 180 nomes ligados ao clube, entre jogadores, adjuntos, dirigentes, entre outros das mais variadas situações.
Dizia-lhes muitas vezes, quando me perguntavam como tinha conseguido decorar o nome de todos assim num ápice, que na minha cabeça, tinha 50 GB de memória. lolol
Claro, que não tem nada que ver com GB de memória, mas tão somente com organização, a que eles não estão habituados.

João Prates- Como é visto ai os treinadores Portugueses?
Mister Madureira- Os treinadores Portugueses, são vistos como a referência JOSÉ MOURINHO.
Tive que me impor muitas vezes com a massa associativa, para deixarem de me chamar MOURINHO.
Fiz mesmo um Cartaz que coloquei no Carro e no Banco de suplentes e nos treino, com o meu nome em letra grande MANUEL MADUREIRA, mas eles sempre a tratarem-me por MOURINHO.
Sempre que viajamos de Avião, nas saídas dos aeroportos, os adeptos esperavam-nos com bandeiras do clube espalhadas pelo chão e tinha-mos que passar por cima delas.
Nesses momentos, la vinha outra vez o coro MOURINHO.
No fundo, acaba por ser através de mim em Brazzaville, assim prestada uma homenagem ao maior Treinador Português de todos os tempos, na minha humilde e modéstia opinião, JOSÉ MOURINHO de seu nome e eu aproveito desde já para o felicitar também por mais um campeonato ganho além fronteiras, que muito nos enche de orgulho.

João Prates- Depois de tantos anos fora de Portugal, regressar esta no horizonte?
Mister Madureira-- Excelente pergunta amigo João.
Sim, regressar está no horizonte, em primeiro pelo futebol português, depois pela família, pelos amigos, e pelas saudades do nosso cantinho à beira mar plantado, mas para que isso aconteça, é preciso que o telefone toque.
Acredito que sim, que vai tocar um dia destes, porque FUTEBOL é CONTACTO, como já o disse anteriormente.

João Prates- O que pensa do fim do campeonato da 3ª divisão em Portugal?
Mister Madureira- Bom, sinceramente acho que depois existirá um fosso grande entre a 2B e os distritais, mas de qualquer modo, talvez os distritais possam ficar mais dotados, quer logisticamente, quer financeiramente.
Ainda não tenho uma opinião muito formada acerca do assunto.
Gostaria de saber em que moldes se vai desenvolver este processo.

João Prates- Algumas palavras que queira deixar aos leitores deste blogue?
Mister Madureira- Que 2012 possa trazer a todos estabilidade, sobretudo que a saúde não vos atraiçoe e que a esperança seja sempre sinónimo de preserverança.

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